As fases de um bitcoinheiro
Descubra as fases de um bitcoinheiro, de um normie interessado a um "blackpillado" do Bitcoin (e maximalista). Dificilmente alguém alcança o último estágio!
Todos ouvem falar de Bitcoin após uma “pernada de alta” que chama a atenção até dos NPCs do dia a dia.
São momentos em que o Bitcoin ganha hype, “viraliza”, estampa manchetes em jornais e é comentado pela mídia normie, isso vem depois de algum ATH surpreendente.
No final de 2024, quando Bitcoin estourou da faixa dos 60k até alcançar os 100k, eu recebi mensagem no Whatsapp de colega de estágio que conheci em 2022 me perguntando se ainda dava para comprar.
O cara se lembrou de mim depois de 2 anos porque eu comentei sobre Bitcoin lá no fundo de 2022.
Também um colega do Banco que só entendia um pouco de fundos imobiliários e ações veio me perguntar se eu sabia algo sobre bitcoin1.
A minha história com Bitcoin não é muito diferente.
A primeira vez que ouvi falar de Bitcoin foi na pernada de alta de 2017, já contei a minha história completa com Bitcoin e alguns dos erros que cometi:
Então, o FOMO de varejo geralmente é a primeira forma pela qual alguém entra em contato com Bitcoin.
A fase sardinha
A primeira fase em relação ao Bitcoin, pelo menos em ciclos mais atuais, é a do FOMO pelo fato dele estar subindo freneticamente, assustando os normies que investem em ações, FIIs, CDBs, etc.
Geralmente, os normies se interessam meramente pela valorização explosiva.
Nesta etapa, o NPC não sabe diferenciar o Bitcoin como um ativo único.
Tudo que ele vê é uma valorização de 100% em 6 meses, por exemplo.
Então, é a famosa sardinha que vem interessada em comprar no topo e depois vai vender no fundo em pânico quando ele despencar 15%, 20% e até 30%.
Isso deve ter acontecido com muita gente agora que Bitcoin rondou os 100k e depois despencou pros 75k dólares.
A partir daqui, o normie curioso se pergunta por que se valoriza tanto, como surgiu, é seguro, e assim vai.
E diversos fatores subjetivos e objetivos vão definir qual caminho ele vai escolher.
Tentando entender o Bitcoin - Fase noob
Ao pesquisar na surface web (YouTube e Google) ele vai se deparar com conteúdos genéricos para NPCs feitos por influencers de finanças e influencers cripto (influencers do Legacy em geral).
Os influencers do Legacy tratam o Bitcoin como mais um dentre outros ativos, sem nada de especial.
Alguns deles nem elaboram tese de investimento (como seria o caso do Raul Sena ou do Economista Sincero), já outros como o Bruno Perini pelo menos abordam os aspectos macro e fundamentalistas.
Apesar disso, eles nunca ultrapassam a linha das implicações das verdades macro e fundamentais do Bitcoin para as shitcoins e para a Bolsa de Valores do B0stil.
Ou seja, não atingem a verdadeira “orangepill” por trás da tecnologia e da macroeconomia do ativo.
E existem ainda aqueles que são absolutamente contra e fingem que o Bitcoin não existe, como é o caso do Thiago Reis da Suno.
A minha opinião é de que eles não falam muito sobre Bitcoin ou não vão tão a fundo no tema porque ganham muito dinheiro defendendo o Legacy: relatórios de análise, corretora, dependência de “análise fundamentalista” recorrente, etc.
Bitcoin não é muito lucrativo para influencer de finanças.
Se você entender a macroeconomia e souber fazer sua autocustódia, não precisa mais “perder tempo” estudando nada, basta simplesmente ir trabalhar e fazer outras coisas.
Agora, ações, renda fixa, dividendos, etc. rendem assunto infinito, rendem engajamento, venda de cursos, assinaturas de plataformas e coisas do tipo.
Por outro lado, além desses influencers do Legacy, o noob também vai encontrar influencers cripto em geral, como o Augusto Backes.
Neste caso, eles vão defender que Bitcoin é uma cripto qualquer como outras, com o diferencial de que não tem muita assimetria.
Vão colocar Bitcoin no mesmo balaio da Solana, da XRP ou qualquer outro lixo do tipo.
Alguns, como o cara da Criptomaníacos, vão defender um maximalismo “de conveniência” com um discurso do tipo “eu apenas especulo com shitcoins, mas o lucro eu coloco tudo em Bitcoin” (como se ter lucros consistentes em mercado altamente especulativo fosse possível…)
Aqui a lógica é a mesma: defender apenas bitcoin não é interessante.
Você precisa pagar por assinaturas e cursos para aprender trading, análise gráfica, relatórios, as “gemas”, as altcoins que vão fazer 100x no ciclo e assim vai.
A “toca do coelho” - Ainda é noob
Muitos vão ficar na fase anterior e nunca vão avançar para as próximas fases.
Vão decidir uma alocação de 1% ou 5% em Bitcoin e vão seguir procurando ações, dividendos ou tentando fazer trade com shitcoins na esperança de, sei lá, enriquecer ou viver de renda passiva.
Muitos morrem ali nos conteúdos superficiais ou ficam presos nos conteúdos do Legacy.
Muito tempo depois, depois de muito ferro com câmbio, inflação, “bolsa barata” que nunca encarece, novos impostos, etc. ou com liquidação em alavancagem com cripto duvidosa, rug pulls e scam, esse coitado volta a estudar os fundamentos e descobre que tomou a bluepill dos investimentos e ficou na matrix do Legacy e do sistema fiat.
Mas alguns poucos, seja por sorte (caiu em conteúdos alternativos, como o do Renato Trezoitão), seja por serem nerdolas mesmo, foram além do básico e do superficial e procuraram entender os fundamentos do ativo.
Estudar os fundamentos do Bitcoin é estudar macroeconomia e finanças e, portanto, entender não apenas o Bitcoin, mas todo o sistema legado de investimentos, ou seja, todo o sistema de investimentos convencional em bolsas de valores, títulos de renda fixa e assim por diante.
Estudar os fundamentos do Bitcoin é, no fim, encontrar teoria monetária, geopolítica e outros temas densos, profundos e complexos.
E estou falando aqui apenas do aspecto social e financeiro do ativo, pois existe todo um mundo complexo na parte da tecnologia: criptografia, computação distribuída, ideologia cypherpunk, etc.
Quem estudar direito tudo isso aqui descubrirá a amarga redpill de que qualquer coisa fora Bitcoin, no atual contexto, é scam, golpe, é perigoso.
Neste ponto, alguns mais sofisticados vão ler e estudar bons livros, como os que eu já recomendei aqui na Newsletter:
A blackpill e a matrix financeira e econômica
Depois de ler e estudar diversos livros, podcasts, vídeos ou até mesmo cair nos meus conteúdos, o noob descobre que “há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia”.
Mesmo aqui existem diversos graus de despertamento.
O mais superficial é entender que o Estado e o governo, seja ele qual for, é golpe e exploração.
O indivíduo descobre “o que aconteceu em 1971” com o início do sistema fiduciário, os problemas inerentes e insolúveis do sistema, as crises sucessivas, o endividamento exponencial, o aumento inevitável dos impostos e da intervenção, a exploração insana da CLT e assim vai.
Já fiz um texto comentando esse ponto e propondo soluções práticas viáveis (salvação individual):
Alguns vão além disso tudo e descobrem a conexão profunda que existe entre isso e a impossibilidade imobiliária, a impossibilidade do casamento, as quedas brutais nas taxas de natalidade e fecundidade, o colapso do Estado de bem-estar social, a explosão das desigualdades, da infidelidade, da promiscuidade, do bastardismo, etc.
Literalmente, a pessoa descobre o mundo tal como ele é, com sua dura realidade amarga, imutável e inevitável.
Claro que nem todos vão chegar ao despertamento profundo, afinal são verdades duras e cruéis e os copes são mecanismos psicológicos necessários para o bem-estar de qualquer um.
Para o homem aceitar a realidade tal como ela é, ele tem que destruir muitas de suas expectativas, ambições, crenças, desejos, etc.
Mas pelo menos ele aumenta as chances de ser livre e rico.
Não há garantias, mas o conhecimento é o primeiro passo da liberdade, afinal você começa a tomar decisões melhores e evitar riscos, custos e perigos que você nem sabia que existiam.
Honkpill - Rumo ao abismo, rindo da sociedade
Há muitas formas de lidar com as verdades recém-descobertas.
A maioria vai negá-las, ignorá-las e viver em copes, outros vão aceitá-las e passar por fases de raiva e indignação seguidas por fases de melancolia, tristeza e impotência.
Isso é totalmente normal e, de certa forma, segue também os padrões da redpill dos relacionamentos.
Mas alguns, como eu, atingem o melhor estado existencial de todos, o que se consolidou chamar memeticamente de honkpill.
A honkpill é uma mistura de estoicismo (aceitar a realidade tal como ela é com sobriedade e indiferença) com o cinismo (entender a leviandade e superficialidade das normas, das instituições, da sociedade como um todo, etc.)
O honkpill aceita que a maioria das coisas vai rumo ao abismo, pega seu pote de pipoca doce e fica rindo da sociedade e dos eventos: bolsopetismo, socialismo, revoluções, Trump, guerra não sei de onde, etc.
Esse grau de despertamento já é mais complexo e envolve constante aprendizado sobre diversos aspectos da realidade.
Por exemplo, você chega à conclusão que democracia não é solução, que liberalismo e socialismo são ideologias antiquadas, que feminismo é puro cope e ideologia (no sentido torpe marxista de ideias que mascaram a realidade e legitimam certos interesses e grupos).
E, claro, fica divertido ver os NPCs bluepills ainda acreditando nessas coisas, enquanto focamos no micro e acumulamos Bitcoin exageradamente, curtindo o que a vida oferece de bom.
Esse grau aqui, eu admito, poucos atingiram e é um despertamento constante que depende também de condições materiais adequadas mínimas.
E geralmente quem atinge não é muito normal da cabeça não!
FOMO constante e imparável
Um outro aspecto interessante do despertamento máximo compartilhado pelos maximalistas é o FOMO constante, mesmo com Bitcoin em queda.
Na realidade, quando você entende de fato o sistema e o Bitcoin, você torce para ele cair mais para você poder comprar e acumular mais em “promoção”.
Quedas viram oportunidade de acumular mais, e não medo de “estouro de bolha” ou “medo de bear market”.
No começo do mês eu estava eufórico com Bitcoin, justamente no ponto máximo do pânico do tarifaço:
Neste ponto, você subverte diversas coisas ditas pros normies que fazem eles terem uma “alocação conservadora” e “diversificada”:
Você entende que os riscos, na verdade, estão nos investimentos tradicionais, já que eles embutem riscos de contraparte, de mercado, risco soberano, etc.
Você vê cada queda e bear market como uma oportunidade de acumular mais e fica torcendo por isso;
Poupar, economizar, se tornam interessantes e valiosos, já que agora o Bitcoin escasso e inconfiscável protege sua riqueza da diluição e do controle de capitais;
Trabalhar se torna mais interessante e você revive seu desejo de ganhar mais, já que agora compensa acumular o excedente, e você quer fazer isso o mais rápido possível para ter uma quantia suficiente para ter liberdade cedo.
Você deixa de ser afetado pelos aspectos macros, pois invariavelmente eles te beneficiam com o sistema intrinsecamente inflacionário que aumenta o preço do Bitcoin.
Aqueles que atingem o grau máximo de despertamento e acumulam uma boa fortuna em Bitcoin podem desfrutar e dar muita risada da sociedade, do grande teatro da democracia, dos relacionamentos, da grande piada que é a mídia mainstream, do joguete dos Bancos Centrais na economia e dos imperialistas na geopolítica e assim vai.
A vida se torna um filme tragicômico.
E quem consegue atingir esse grau máximo busca a sua liberdade por meio do Bitcoin, e isso é sim possível.
Um forte abraço, rumo ao abismo e ao novo ATH!
No dia a dia, eu adoto a “maskpill”, eu me faço de idiota, não opino sobre nada, fico ouvindo e me faço de “aprendiz” dos outros. Vez ou outra solto algum comentário, mas nunca participo de forma incisiva das conversas do dia a dia.
Excelente! Reflexão profunda com boas pitadas de ironia. A honkpill é simplesmente genial👏
Excelente texto. "Maskpill" eu ri e me identifiquei (sapo palhaço de máscara genial kkk)