MGTOW's e Blade Runner 2049
Neste texto, eu vou fazer uma análise filosófica do filme Blade Runner 2049. Esse texto será pesado, principalmente se você é casado/namora ou pretende fazer isso.
Apenas uma correção, o texto contém spoiler, me dei conta agora há pouco. Não leiam se querem ver o filme.
Recentemente, assisti ao filme Blade Runner 2049.
E eu o vi por recomendação do Coruja do Carvalho, então já sabia que o contexto e a interpretação do filme era pela via da perspectiva niilista negativa, “waifuísta”, volcel e mgtow do Coruja.
Eu vou tentar não dar spoiler do filme, mas talvez seria interessante que você o visse antes de ler este texto.
O filme é bom, mas eu vou ser crítico e, no meu caso, críticas tendem a matar meu interesse por filmes, mesmo quando dito que o filme é bom.
A falha filosófica fundamental
Desde que comecei a estudar muitos livros de Filosofia em 2016, e descobri a Filosofia como uma espécie de atividade em busca de conhecimento sério, eu entrei em contato com diversas reflexões sobre a existência humana.
Isso basicamente matou muitas das minhas experiências com filmes, séries, animes e mangás, porque eu comecei a constatar que muitas dessas histórias e narrativas eram fundamentadas em problemas filosóficos resolvidos há muito tempo (por Aristóteles, Platão, Aquino, Kant, etc.)
A Filosofia tira o encanto das coisas porque tira o mistério.
E foi isso que me ocorreu ao assistir Blade Runner 2049.
No filme, nós somos apresentados aos chamados “replicantes”, que são criaturas artificiais, criadas por bioengenharia para serem “escravas”.
Ou seja, são “seres humanos” artificiais criados para servir à sociedade.
Só que existem os replicantes novos e os antigos.
Os antigos, por serem “falhos”, se revoltaram e muitos estão foragidos. Alguns desses androides novos são mais obedientes, fiéis e mais fortes que os antigos e, por isso, são feitos para caçá-los (os blade runners).
O filme todo se baseia nos questionamentos acerca do que significa ser um “humano”, o que significa a humanidade, e dá para perceber no tom de todo o filme que esse questionamento persegue a todos os personagens, até o “dono” dos replicantes (o Sr. Wallace).
Só que essa questão é simplíssima de resolver com Filosofia, e jamais deveria ter sido uma questão perturbadora para todos os personagens do filme.
Os replicantes satisfazem todos os requisitos para serem considerados humanos:
São capazes de agir por dever, como é o caso do protagonista que, inclusive, é como um “policial” (esse é o critério kantiano para ter personalidade moral e jurídica, isto é, para ser considerado pessoa);
São capazes de raciocinar e são dotados de autoconsciência (critério antigo, aristotélico-tomista, e inclusive senso comum);
Possuem emoções funcionais, apesar de serem adestrados (o critério aqui não é eles terem emoções, pois isso não caracteriza o humano, mas sim eles terem emoções funcionais, racionalmente dirigidas, inclusive, mais do que nós humanos, já que eles são obedientes e fiéis, ou seja, autocontrolados).
O filme coloca o nascimento por reprodução sexuada como se isso fosse o aspecto fundamental da humanidade…
Ora, na tradição bíblica (das três maiores religiões da humanidade), Adão e Eva são representantes da humanidade e… não surgiram por reprodução sexuada.
Esse exemplo da nossa cultura serve apenas para ilustrar que mesmo o senso comum não parte do pressuposto de que a reprodução sexuada é essencial para ser considerado humano.
A verdade é que a tal “dúvida perturbadora” que faz os personagens agirem, montarem revoltas, e que aparentemente está por trás da existência frustrante, solitária e melancólica do protagonista, nunca deveria sequer ter existido por ser muito simples de resolver.
Os replicantes, caso um dia venham a ser realmente possíveis com bioengenharia ou robótica avançada, deverão ser tratados como pessoas humanas, e terão todos os direitos que um ser humano normal possui.
Isso é diferente de uma criatura robótica sem autoconsciência1.
Na série, em momento algum temos dúvida de que são seres sem autoconsciência, pelo contrário… Fica nítido que possuem senso de dever, responsabilidade, sentimentos, e que experimentam isso subjetivamente.
Eles claramente não são “zumbis filosóficos”2.
Ou seja, simplesmente o pressuposto do filme é completamente banal e fácil de ser resolvido.
O que eu faria para melhorar o filme
Se o filme deixasse essa querela existencial facílima de esclarecer de lado e tivesse focado na estrutura social e política totalitária e repressiva, ele seria melhor.
Aquilo que eu mais achei interessante no universo foi o que menos os autores deram atenção: a estrutura da empresa que criou os replicantes e o ordenamento jurídico e social que os estabelecia como escravos e os doutrinava para tal.
Além de ser mais realista, isso dá insumos para narrativas realmente interessantes, inclusive podendo se basear em fatos reais ocorridos nas ditaduras totalitárias ao redor do mundo (URSS, Coréia do Norte, Cuba, China, etc.)
Essas ditaduras transformam humanos reais em androides escravos, como é o caso de soldados que vão à guerra… Como é o caso dos cidadãos da Coréia do Norte que vivem numa realidade completamente mentirosa (matrix real) criada por um governo totalitário repressivo que os isola completamente do mundo (comprovado até via satélite com o apagão que ocorre à noite no país).
O próprio fato de pouco sabermos sobre o que ocorre dentro da Coréia do Norte é algo que sempre me surpreendeu e já deveria significar por si mesmo que esse sistema jamais deveria existir…
Porém, conversei com um amigo meu sobre essa proposta de transformar o filme mais numa questão política e sociológica, e nós dois concluímos que isso provavelmente teria estragado o filme.
Geralmente, abordordagens políticas e sociais caem em propagandismo ideológico barato e vagabundo.
Infelizmente, poucos são os filmes que conseguem explorar de forma realmente cativante todo tipo de situação e experiência que esse cenário totalitário pode proporcionar.
Considero o 1984 do Orwell uma forma muito mais realista e interessante de abordar uma realidade distópica com um Estado super-poderoso e tecnocrata totalitário, e acredito fortemente que a tendência do nosso mundo real é essa, mas não vou explorar essa visão aqui.
MGTOW e a solidão do homem mediano moderno
O que mais capturou a atenção da comunidade masculina nesse filme foi a realidade do protagonista.
A cultura do “literalmente eu” que surgiu da projeção em protagonistas medianos solitários é um fenômeno moderno crescente e cada vez mais popular, como se pode notar por esse edit com 2,2 milhões de visualizações e toda a cultura memética que vem surgindo em torno disso nos últimos anos na Internet mundial.
O protagonista K (ou Joe) encarna todos os sofrimentos e fardos do homem mediano moderno: isolado, “servo do sistema”, desprezado, que se sacrifica pelo social como uma formiga operária, e sua pequena alegria diária é sua esposa de mentirinha.
Embora não tenhamos esposas “de mentiras” no sentido do filme, a maioria dos relacionamentos hoje são pautados em ilusões e mentiras de fidelidade, romantismo, etc.
Resquícios saudosos (e até fantasiosos) dos tempos patriarcais.
A minha hipótese sobre isso é complexa, e vou abordar um pouco.
Agora…
Peço a você, caso seja casado, tenha namorada, noiva ou pretenda ter algo do tipo, que leia com a mente aberta e se prepare, porque virá duras verdades ditas de forma seca, sem eufemismos, ao bom e velho estilo do Nessahan Alita.
Ou, se você já se conhece o bastante para saber que vai ficar ofendido e mal, pode sair do texto agora.
Casamento tradicional e tradwifes não existem mais
Com a ascensão da permissão (e até recompensa) para o adultério e para o divórcio, e com a proliferação sociocultural da promiscuidade feminina dentro do sistema político e social ginocêntrico que temos, o investimento parental basicamente morreu.
Os homens possuem um ímpeto natural para proteger e prover para suas mulheres e seus filhos, pois isso dá um senso de significado e realização existencial, e acredito fortemente que fomos programados evolutivamente para isso (os indícios neurofisiológicos, neuropsicológicos e da estrutura sociobiológica humana parecem confirmar essa hipótese de que o homem é um organismo que tem certa programação básica para proteger e prover, ou seja, fazer investimento parental).
Eu me considero um MGTow, mas não é por primeira opção.
Eu sou sincero: se eu pudesse ter um casamento aos moldes tradicionais patriarcais, uma esposa jovem, virgem, submissa, leal, fiel que pudesse me dar muitos filhos e se dedicar à maternidade, obviamente é isso que eu iria querer.
Mas como eu sei que na modernidade isso é impossível, tive que encontrar outro significado para a minha existência enquanto homem.
E eu não sei se estou fazendo projeção psicológica, mas me parece que é isso que, no fundo, a maioria dos homens gostariam de ter.
Entretanto, o fato é que o cenário está tão horrível para nós que só nos resta quitar do game e construir nossos espaços individuais de prazer, conforto, lazer.
A queda da taxa de natalidade e de fertilidade, o aumento dos divórcios, a permissividade jurídica total com a promiscuidade feminina, etc. são evidências empíricas de que o investimento parental masculino morreu.
É a blackpill BRVTAL dos relacionamentos no ambiente moderno.
Subempregos modernos e exploração estatal
Não bastasse o homem ter sido impossibilitado de fazer seu investimento parental, a situação financeira e econômica de muitos países é de decadência.
Os Estados são deficitários, praticam a inflação como política macroeconômica fundamental e, em casos de países semifalidos como o nosso, ainda possuem forte exploração tributária e forte impedimento estatal de criação de riqueza.
O resultado de tudo isso misturado é: o homem mediano, além de solitário, tem que trabalhar, ser explorado, ganhar muito pouco e viver na miséria ou na pobreza.
O minimalismo no Bostil não é um estilo de vida, é uma necessidade.
O homens que ainda optam por tentar casamento nas condições modernas, além de não terem nem o básico de suas mulheres (maternidade responsável, cuidados domésticos, etc.), ainda vão ser workaholics pobres e, provavelmente, cornos mansos.
É uma situação terrível.
Naturalmente, alguns poucos jovens mais esclarecidos como eu (e você), e que conseguiram ou que vieram de uma condição material um pouco melhor (classe média, por exemplo), acabam por perceber essa matrix bostileira e ficam extremamente frustrados.
Trabalhos ruins que pagam pouco, mulheres prostitutas/vadias de forma generalizada pela sociedade, exploração tributária, endividamento exponencial, pessoal e estatal… fizeram o cenário perfeito para a criação da cultura do “literalmente eu” com protagonistas solitários, frustrados, etc.
Isso faz do nosso protagonista, K ou Joe, um representante quase que perfeito do homem mediano que sustenta essa nação de bastardos, vadias e vagabundos.
É dureza isso… Mas eu prefiro ser direto e sincero e é assim que eu opero, os comentários estão disponíveis para contestação.
A adaptação masculina moderna: mgtow e “sigma”
A partir desse cenário absurdo, que pouco a pouco muitos homens estão percebendo, o mgtow, ou o estilo de vida “sigma”, vem se generalizando como forma de vida masculina.
Eu mesmo me considero um “mgtow”.
Quitei do game, não me esforço mais nem que seja para mandar um bom dia para uma mulher, nem convido para sair, nem nada. Eu me dedico aos meus hobbies, às coisas que eu gosto, estou construindo um patrimônio bacana, e sei que apesar dos pesares, isso é o melhor.
Eu paro para observar a vida dos casados modernos e é de dar pena…
Escassez sexual, mulheres que claramente não têm vocação nenhuma para serem esposas/mães, e uma vida de rato, uma vida de escravo. Leva mulher, busca mulher, compra isso, compra aquilo, trabalha igual um condenado, se endivida, e ainda leva chifre…
Já vi isso no trabalho.
“O suco não vale a espremida”
Não tenho nada contra quem quer tentar achar a exceção…
Mas esses dias eu vi um post interessante sobre “rodagem feminina” no Twitter, e os homens estão tendo que aceitar tanto lixo que eles acham que a mulher ter passado por 5 rolas é normal e aceitável.
Acredite, não é normal!
Nosso instinto grita para fugir disso, isso causa extremo desconforto e tem fundamentação biológica (o mito da “insegurança masculina” como aspecto moral é um shaming feminista, homens são programados biologicamente com isso e, intuitivamente, sabem que mulher promíscua “empoderada” é algo repugnante).
Já tem estudos sérios comprovando que, a partir da segunda rola, cai absurdamente a chance da mulher ser uma boa esposa e do casamento durar até o fim da vida (e realmente não tem sentido se comprometer seriamente se o casamento não for para a vida toda):
Pode notar que depois do segundo, já era…
As chances do casamento durar caem absurdamente (e isso num horizonte de 10 anos).
Essa é uma verdade brvtal que poucos homens vão aceitar, porque eu sei que a maioria realmente quer um casamento, mas como vivemos no século da putaria, no país da putaria, pedir mulher virgem é fazer uma exigência absurda, então os homens estão aceitando mulheres com 3, 5, 10 parceiros sexuais no histórico, e consideram isso normal e aceitável, e acham que essas mulheres poderão ser boas esposas e boas mães…
Isso me faz lembrar de uma cena do filme:
Essa cena do filme, de certa forma, representa essa decepção e frustração masculinas por não serem nada e nem ninguém para ninguém.
E foi uma das cenas que mais me marcou.
Eu senti essa brutal decepção e frustração como o protagonista quando descobri as verdades da blackpill dos relacionamentos, depois de ter descoberto blackpills econômicas e sociológicas também (e até metafísicas).
A busca da castidade sexual feminina é tão velha quanto a humanidade, as religiões e a maioria esmagadora dos mitos trazem a importância disso, e hoje em dia, mesmo tendo forte instinto gritando, os homens abraçam copes para aceitar vadias e prostitutas como esposas.
Assim como o nosso protagonista, eles se agarram a mentiras confortáveis para tentar viver um pouco do que seria a realização masculina: o investimento parental perfeito e ideal.
Conclusão… Não é o fim
Mas…
Eu não sou niilista negativo como muitos criadores de conteúdo mgtow e volcel, e também não adoto a postura de muitos “purple pill” (que buscam conciliar o ambiente moderno com casamentos tradicionais, na busca pela “exceção” por meio dos “critérios de redflags”, que se provou uma farsa disfuncional em um ambiente estragado).
Eu sei que esse texto foi dureza de ler, e talvez eu tenha te irritado por desfazer alguns dos seus copes…
Talvez eu tenha ofendido indiretamente sua namorada, sua esposa, ou talvez eu tenha tirado suas doces ilusões quanto ao relacionamento e ao casamento.
Mas existe um caminho que não o niilismo negativo e esquivo do Coruja do Carvalho, o isolacionismo melancólico e misantrópico do Forever e do Davi (do canal “O que é a vida”) ou das maluquices do Ralf Gomes, ou mesmo do tradicional “leitada e ghost” do saudoso Trunks do Futuro.
Existe um lado que não foi mostrado para nós homens de existência espiritual profunda e refinada, e esse lado não envolve fugir e se esconder num sítio, no meio do mato, e negar a sociedade.
Mas para entender essa visão que eu estou construindo, eu precisarei produzir mais e mais conteúdos e estudar mais e mais.
Ah…
E já adianto: infelizmente é para uma minoria. Eu não caio no cope de que “só é válido o que todos podem fazer”…
Existem coisas que são impossíveis para a maioria.
“A maioria não ganha o suficiente para investir…”
Pois é, por isso a maioria vai se f0d3r no final da história… Não existe magia, ou ganha mais, ou ficará na lama.
Mas… Acredite, eu tenho quase certeza que, se você leu até aqui, se você refletiu no que eu disse até aqui… Você com certeza não é parte da maioria.
E se você, apesar de não ter entendido, se sentiu instigado a compreender o que eu disse, se aprofundar, etc. pode ter certeza que você não é a maioria.
A maioria vai se f0d3r no fim da história, a salvação é individual, tem que focar em você, “focar no micro”, como dizia o Trunks do Futuro.
“Um forte abraço a todos.”
Embora exista um problema filosófico interessante aqui suscitado pelo Teste de Turing e pelo experimento da “sala chinesa” de John Searle sobre a identificação da autoconsciência por aspectos externos. Basicamente, alguns filósofos, como Searle, defendem que o mero comportamento externo não é suficiente para identificar a autoconsciência e ele usa para tal a “sala chinesa” como um exemplo. Já o teste de Turing é uma espécie de critério simples para podermos atribuir inteligência autoconsciente para máquinas. Para o teste de Turing, se um dia tivermos uma máquina indistinguível do comportamento humano (em comunicação, linguagem, etc.), isso seria suficiente para considerá-la humana, já Searle diria que mesmo que ela exibisse todo o comportamento externo indistinguível de um ser humano, não poderíamos considerá-la como tal, pois a autoconsciência é um aspecto interior.
Dentro da filosofia da mente, existe uma discussão seríssima sobre como identificar a autoconsciência a partir do comportamento exterior. O experimento mental do “zumbi filosófico” consiste em imaginar uma criatura que age sob todos os aspectos como se fosse humana, mas sem ter o a autoconsciência. Isso serviria para mostrar que a autoconsciência é uma propriedade interna inacessível e que, na verdade, nós presumimos que os outros seres humanos são autoconscientes. Esse é tanto uma problemática metafísica quanto epistemológica. A minha solução é de que o ser humano só age como age porque é autoconsciente, a consciência reflexa (consciência da própria consciência) é essencial para muitos dos comportamentos externos humanos. Mas não vou me alongar neste problema, que é complexo e ainda suscita muitos debates em aberto na filosofia da mente.
Infelizmente,isso que você abordou no texto é além de ser verdade,é a realidade que vivemos,e ao inves de reclamar desejando que fosse diferente,o caminho é focar no micro,no proprio autodesenvolvimento
Excelente artigo amigo, muitas verdades já sabidas pela minha pessoa. Só fiquei curioso nas tais "blackpills" econômicas, sociológicas e metafísicas.